domingo, 27 de abril de 2008

O Mito da Caverna

O MITO DA CAVERVA

Para explicar o movimento de passagem de um grau de conhecimento para outro, no livro VII da República, Platão narra o Mito da Caverna, alegoria da teoria do conhecimento e da paideía platônicas.

Para dar a entender ao jovem Glauco o que é e como se adquire o conhecimento verdadeiro, Sócrates começa estabelecendo uma analogia entre conhecer e ver.

Todos os nossos sentidos, diz Sócrates, mantêm uma relação direta com o que sentem. Não é esse, porém, o caso da visão. Para que a visão se realize, não bastam os olhos (ou a faculdade da visão) e as coisas coloridas (pois vemos cores e são elas que desenham a figura, o volume e as demais qualidades da coisa visível), mas é preciso um terceiro elemento que permita aos olhos ver e às coisas serem vistas: para que haja um visível visto é preciso a luz. A luz não é o olho nem a cor, mas o que faz com que o olho veja a cor e que a cor seja vista pelo olho. É graças ao Sol que há um mundo visível. Por que as coisas podem ser vistas? Porque a cor é filha da luz. Por que os olhos são capazes de ver? Porque são os filhos do Sol: são faróis ou luzes que iluminam as coisas para que se tornem visíveis. A visão é, assim, uma atividade e uma passividade dos olhos. Atividade, porque é a luz do olhar que torna as coisas visíveis. Passividade, porque os olhos recebem sua luz do Sol.

Conhecer a verdade é ver com os olhos da alma ou com os olhos da inteligência. Assim como o Sol dá sua luz aos olhos e às coisas para que haja mundo visível, assim também a idéia suprema, a idéia de todas as idéias, o Bem (isto é, a perfeição em si mesma) dá à alma e às idéias sua bondade (perfeição) e é por isso que a alma pode conhecer as idéias. E assim como a visão é passividade e atividade da olho, assim também o conhecimento é passividade e atividade da alma: passividade, porque a alma precisa receber a ação das idéias para poder contemplá-las; atividade, porque essa recepção e contemplação constituem a própria natureza da alma.

Assim como na treva não há visibilidade, assim também na ignorância não há verdade. A eikasía e a dóxa são para a alma o que a cegueira é para os olhos e a escuridão é para as coisas: são privações (privação da visão e privação de conhecimento)

Sob a analogia da luz, a diferença entre o sensível e o inteligível se apresenta assim:

MUNDO SENSÍVEL MUNDO INTELIGÍVEL

Sol_____________________________________________Bem

Luz_____________________________________________Verdade

Cores____________________________________________Idéias

Olhos____________________________________________Alma racional ou inteligência

Visão_____________________________________________Intuição

Treva, cegueira,privação de luz_________________Ignorância, opinião, privação de verdade

Essa analogia é o tema do Mito da Caverna, narrado por Sócrates a Glauco para fazê-lo compreender o sentido da paideía filosófica, isto é, da dialética e do conhecimento verdadeiro.

Imaginemos, diz Sócrates, uma caverna subterrânea separada do mundo externo por um alto muro. Entre este e o chão da caverna há uma fresta por onde passa alguma luz exterior, deixando a caverna na obscuridade quase completa. Desde seu nascimento, geração após geração, seres humanos ali estão acorrentados, sem poder mover a cabeça na direção da entrada, sem locomover-se, forçados a olhar apenas a parede de fundo, vivendo sem nunca ter visto o mundo exterior nem a luz do Sol, sem jamais ter efetivamente visto uns aos outros, pois não podem mover a cabeça nem o corpo, e sem se ver a si mesmos porque estão no escuro imobilizados. Abaixo do muro, do lado de dentro da caverna, há um fogo que ilumina vagamente o interior sombrio e faz com que as coisas que se passam do lado de fora sejam projetadas como sombras nas paredes do fundo da caverna. Do lado de fora, pessoas passam conversando e carregando nos ombros figuras ou imagens de homens, mulheres, animais cujas sombras também são projetadas na parede da caverna, como num teatro de fantoches. Os prisioneiros julgam que as sombras de coisas e pessoas, os sons de suas falas e as imagens que transportam nos ombros são as próprias coisas externas, e que os artefatos projetados são seres vivos que se movem e falam.

Nesse ponto, Glauco diz a Sócrates que o quadro descrito por ele lhe parece algo estranho, incomum, e inusitado. Sócrates, porém lhe diz que os prisioneiros “são semelhantes a nós”. E prossegue. Os prisioneiros se comunicam, dando nomes às coisas que julgam ver (sem vê-las realmente, pois estão na obscuridade) e imaginam que o que escutam, e que não sabem que são sons vindos de fora, são as vozes das próprias sombras e não dos homens cujas imagens estão projetadas na parede e também imaginam que os sons produzidos pelos artefatos que esses homens carregam nos ombros são vozes de seres reais. Qual é, pois, a situação dessas pessoas aprisionadas? Tomam sombras por realidade, tanto as sombras das coisas e dos homens exteriores como as sombras dos artefatos fabricados por eles. Essa confusão, porém, não tem como causa a natureza dos prisioneiros e sim as condições adversas em que se encontram. Por isso Sócrates indaga: que aconteceria se fossem libertados dessa condição de miséria e, “retornando à sua natureza, pudessem ver as coisas e ser curados de sua ignorância?”.

Essa pergunta é grave. De fato, para os prisioneiros, o único mundo real é a caverna, portanto, a obscuridade na qual não podem se ver nem ver os outros não é percebida como tal e sim experimentada como realidade verdadeira. E a caverna é para eles todo o mundo real, pois não sabem que o que vêem na parede do fundo são sombras de um outro mundo, exterior à caverna, uma vez que não podem virar a cabeça para ver que há algo lá fora e que é de lá de fora que outros homens lhes enviam imagens e sons. Ora, se para os prisioneiros o mundo real é caverna, como poderiam sair da ilusão se não sabem que vivem nela?

Um dos prisioneiros, inconformado com a condição em que se encontra, decide abandoná-la. Fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhões. De início, move a cabeça, depois o corpo todo; a seguir, avança na direção do muro e o escala. Enfrentando as durezas de um caminho íngreme e difícil, sai da caverna. No primeiro instante, fica totalmente cego pela luminosidade do Sol, com a qual seus olhos não estão acostumados. Enche-se de dor por causa dos movimentos que seu corpo realiza pela primeira vez e pelo ofuscamento de seus olhos sob a ação da luz externa, muito mais forte do que o fraco brilho do fogo que havia no interior da caverna. Sente-se dividido entre a incredulidade e o deslumbramento. Incredulidade porque será obrigado a decidir onde se encontra a realidade: no que vê agora ou nas sombras em que sempre viveu. Deslumbramento (literalmente: ferido pela luz) porque seus olhos não conseguem ver com nitidez as coisas iluminadas. Seu primeiro impulso é retornar à caverna para livrar-se da dor e do espanto. Embora esteja reconquistando sua verdadeira natureza, o sofrimento que essa reconquista lhe traz é tão grande que se sente atraído pela escuridão, que lhe parece mais acolhedora. Além disso, precisa aprender a ver e esse aprendizado é doloroso, fazendo-o desejar a caverna, onde tudo lhe é familiar e conhecido.

A descrição platônica é dramática: o caminho em direção ao mundo exterior é íngreme e rude; o prisioneiro libertado sofre e se lamenta de dores no corpo; a luz do sol o cega; ele se sente arrancado, puxado para fora por uma força incompreensível. Platão narra um parto: o parto da alma que nasce para a verdade e é dada à luz.

Sentindo-se sem disposição para regressar à caverna por causa da rudeza do caminho, o prisioneiro permanece no exterior. Aos poucos, habitua-se à luz e começa a ver o mundo. Encanta-se, tem felicidade de finalmente ver as próprias coisas, descobrindo que estivera prisioneiro a vida toda e que em sua prisão vira apenas sombras. Doravante, desejará ficar longe da caverna para sempre e lutará com todas as suas forças para jamais regressar a ela. No entanto, não pode evitar de lastimar a sorte dos outros prisioneiros e, por fim, toma a difícil decisão de regressar ao subterrâneo sombrio para contar aos demais o que viu e convencê-los a se libertarem também.

Assim como a subida foi penosa, porque o caminho era ingrato e a luz, ofuscante, também o retorno será penoso, pois será preciso habituar-se à luz. De volta à caverna, o prisioneiro fica cego novamente, mas, agora, por ausência de luz. Ali dentro, é desajeitado, inábil, não sabe mover-se entre as sombras nem falar de modo compreensível para os outros, não sendo acreditado por eles. Torna-se objeto de zombaria e riso, e correrá o risco de ser morto pelos que jamais se disporão a abandonar a caverna. (...)

A caverna, explica Sócrates a Glauco, é o mundo sensível onde vivemos. O fogo que projeta as sombras na parede é um reflexo da luz verdadeira (do Bem e das idéias) sobre o mundo sensível. Somos os prisioneiros. As sombras são as coisas sensíveis, que tomamos pelas verdadeiras, e as imagens ou sombras dessas sombras, criadas por artefatos fabricadores de ilusões. Os grilhões são nossos preconceitos, nossa confiança em nossos sentidos, nossas paixões e opiniões. O instrumento que quebra os grilhões e permite a escalada do muro é a dialética. O prisioneiro curioso que escapa é o filósofo. A luz que ele vê é a luz plena do ser, isto é, o Bem, que ilumina o mundo inteligível como o Sol ilumina o mundo sensível. O retorno à caverna para convidar os outros a sair dela é o diálogo filosófico, e as maneiras desajeitadas e insólitas do filósofo são compreensíveis, pois quem contemplou a unidade da verdade já não sabe lidar habilmente com a multiplicidade das opiniões nem mover-se com engenho no interior das aparências e ilusões. Os anos despendidos na criação do instrumento para sair da caverna são o esforço da alma para libertar-se. Conhecer é, pois, um ato de libertação e de iluminação. A Paidéia filosófica é uma conversão da alma voltando-se do sensível para o inteligível. Essa educação não ensina coisas nem nos dá a visão, mas ensina a ver, orienta a olhar, pois a alma, por sua natureza, possui em si mesma a capacidade para ver.

O Mito da Caverna apresenta a dialética como movimento ascendente de libertação do olhar intelectual que nos livra da cegueira para vermos a luz das idéias. Mas descreve também o retorno do prisioneiro para convidar os que permaneceram na caverna a sair dela, ensinando-lhes como quebrar os grilhões e subir o caminho. Há, assim, dois movimentos: o de ascensão (a dialética ascendente), que vai da imagem à crença ou opinião, desta para as matemáticas e destas para a intuição intelectual e a ciência; e o do descenso (a dialética descendente), que consiste em praticar com outros o trabalho para subir até às idéias.

Os olhos foram feitos para ver, a alma foi feita para conhecer. Os primeiros estão destinados à luz solar, a segunda, à fulguração da idéia. A dialética é a técnica libertadora dos olhos do espírito.

O relato da subida e da descida expõe a paideía como dupla violência necessária para a liberdade e para a realização da natureza verdadeira da alma: a ascensão é difícil, dolorosa, quase insuportável; o retorno à caverna, uma imposição terrível à alma libertada, agora forçada a abandonar a luz e a felicidade. A dialética, como toda técnica, é uma atividade exercida contra uma passividade, é um esforço para obrigar um dýnamis a se atualizar, um trabalho para concretizar um fim, forçando um ser a realizar sua própria natureza. No Mito, a dialética leva a alma a ver sua própria essência ou forma (eîdos) __, isto é, conhecer__ vendo as essências ou formas (eíde __ isto é, os objetos do conhecimento __, para descobrir seu parentesco com elas, pois a alma é parente da idéia como os olhos são parentes da luz.

p. 257-262

A INTERPRETAÇÃO DO MITO DA CAVERNA POR HEIDEGGER

(...) O Mito da Caverna, começa Heidegger, estabelece uma relação interna ou intrínseca entre a paideía e a alétheia : a filosofia é educação ou pedagogia para a verdade. Essa relação é proposta pelo mito com a analogia entre os olhos do corpo e os olhos do espírito quando passam da obscuridade à luz: assim como os primeiros ficam ofuscados pela luminosidade do Sol, assim também o espírito sofre um ofuscamento no primeiro contato com a luz da idéia do Bem, que ilumina o mundo das idéias. A trajetória realizada pelo prisioneiro é a descrição da essência do homem (um ser dotado de corpo e alma) e sua destinação verdadeira (o conhecimento intelectual das idéias). Essa destinação é seu destino: o homem está destinado à razão e à verdade. Por que, então, a maioria dos homens permanece prisioneira da caverna? Porque suas almas não recebem a paideía adequada à destinação humana. Assim, a paideía, alegoricamente descrita no mito, é “uma conversão do olhar”, isto é, a mudança na direção de nosso pensamento, que, deixando de olhar as sombras (pensar sobre as coisas sensíveis), passa a olhar as coisas verdadeiras (pensar nas idéias). E, observa Heidegger, não foi por acaso que Platão escolheu a palavra eîdos para designar as idéias ou formas inteligíveis, pois eîdos significa figura e forma visíveis, e a idéia é o que o olho do espírito, educado, torna-se capaz de ver. A idéia do Bem, correspondente ao Sol, não só ilumina todas as outras tornando-as todas visíveis para o olho do espírito, mas é também a idéia suprema, tanto porque é a visibilidade (inteligibilidade) plena como porque é a causa da visibilidade (inteligibilidade) de todo o mundo inteligível. A filosofia, conhecimento da verdade, é conhecimento da idéia do Bem, princípio incondicionado de todas as essências. Assim como o Sol permite aos olhos ver, assim o Bem permite à alma conhecer. A luz é a mediação entre aquele que conhece e aquilo que se conhece.

Empregando a metáfora da visão, continua Heidegger, o Mito da Caverna preserva o antigo sentido da alétheia como não-esquecimento e não-ocultamento da realidade, pois alétheia é o que é arrancado do esquecimento e do ocultamento, fazendo-se visível para o espírito, embora invisível para o corpo. A verdade é uma visão, visão da idéia, isto é, do que está plenamente visível para a inteligência e, por ser visão plena, a verdade é evidência: um visível inteiramente visto, sem sombras e sem obscuridades, é evidente; um vidente que tudo vê, sem que nada lhe escape e nada lhe fique escondido, possui a evidência.

É exatamente essa concepção da verdade como evidência, argumenta Heidegger, que dá ao Mito da Caverna ainda um outro sentido com o qual compreendemos por que Platão é o inventor da razão ocidental.

De fato, na origem, a palavra alétheia é uma palavra negativa (a-létheia), significando o não-esquecido, não-escondido. Isso pressupunha que a verdade era inesgotável, oferecia-se pouco a pouco e jamais completamente nem de uma só vez, permanecia com um fundo esquecido e escondido do qual, de vez em quando, algo surgia e se manifestava, fazendo-se não-esquecido e não-escondido. Com o Mito da Caverna, porém, a verdade, tornando-se evidência, torna-se visibilidade plena e total, abandona o antigo sentido negativo da a-létheia para ganhar um sentido positivo ou afirmativo. Em lugar de dizermos que o verdadeiro é o não-escondido, Platão nos leva a dizer que a verdade é o plenamente visível para o espírito, aquilo de que nada permanece escondido ou oculto. Que significa isso? Significa que a verdade deixa de ser o próprio ser se desocultando ou se manifestando aos homens para tornar-se uma operação (a mais alta e mais importante) da razão humana que, pelo olhar intelectual, apreende a idéia como essência inteiramente vista e contemplada, sem sombras. A verdade, diz Heidegger, se transfere da ação do próprio ser (que se mostrava parcialmente aos homens) para a ação da alma, que tudo vê e alcança o todo do ser. Deixando de ser uma aparição sobre um fundo permanente de ocultamento (pois o ser não cessava de se manifestar porque nele sempre permanecia um fundo oculto inesgotável, um não-visível ou um invisível essencial), a verdade torna-se o conhecimento total e pleno da idéia do Bem. Com isso, escreve Heidegger, a verdade dependerá, de agora em diante, da razão humana.

Qual é a pedagogia proposta pelo Mito da Caverna? A educação do olhar. Ou seja, a verdade, doravante, dependerá do olhar correto, que olha na direção certa __ não olha para o interior da caverna, mas para fora e para o alto __, e dependerá do olhar exato e rigoroso __ que não olha sombras opacas e indecisas, mas realidades claras, distintas, delimitadas, nítidas. Exatidão, rigor, correção são as qualidades e propriedades da razão, no Ocidente. A verdade e a razão são theoría, contemplação das idéias quando aprendemos a dirigir o intelecto na direção certa, isto é, para o conhecimento da essência das coisas. Dessa maneira, conclui Heidegger, Platão destruiu o antigo conceito da verdade, no qual era o próprio ser que se manifestava no mundo e ao mundo, e o substituiu por aquele que prevalecerá no pensamento ocidental, o inteligível e a inteligência, obtida apenas pelas operações da própria alma. Platão teria, assim, iniciado o processo do destino ocidental, a saber, colocar o homem com primazia sobre o ser. (...)

p. 262-264

O MITO DO ER OU A REMINISCÊNCIA

É preciso explicar como, vivendo no mundo sensível, alguns homens sentem atração pelo mundo inteligível. Como, nunca tendo tido contato com o mundo das idéias, jamais tendo contemplado as idéias, algumas almas as procuram? De onde vem o desejo de sair da caverna? Mais do que isso, como os que sempre viveram na caverna podem supor que exista um mundo fora dela, se os grilhões e o alto muro não deixam ver nada externo? Em outras palavras, como explicar que vivendo entre simulacros, crenças e opiniões, os homens possam supor que existe algo além deles e que esse algo é a verdade, se jamais a viram? E como explicar, quando têm o contato com uma idéia verdadeira, que saibam que ela o é? Para decifrar esse enigma, Platão, na República, narra o Mito de Er, também conhecido como o Mito da Reminiscência, da anámnesis, que vimos ser inseparável da antiga idéia da alétheia (o não-esquecido).

O pastor Er, da Panfilia, é conduzido pela deusa até o Hades, o reino dos mortos, para onde, segundo a tradição grega, sempre foram conduzidos os poetas e adivinhos ou videntes. Ali, Er encontra as almas dos mortos serenamente contemplando as idéias. Devendo reencarnar-se, as almas serão levadas para escolher a nova vida que terão na Terra. São livres para escolher a nova vida terrena que desejam viver. Após a escolha, são conduzidas por uma planície onde correm as águas do rio Léthe (o esquecimento). As almas que escolheram uma vida de poder, riqueza, glória, fama ou uma vida de prazeres, bebem água em grande quantidade, o que as faz esquecer as idéias que contemplaram. As almas dos que escolhem a sabedoria quase não bebem das águas e por isso, na vida terrena, poderão lembrar-se das idéias que contemplaram e alcançar, nesta vida, o conhecimento verdadeiro. Desejarão a verdade, serão atraídas por ela, sentirão amor pelo conhecimento, porque, vagamente, lembram-se de que já a viram e já a tiveram. Não esquecem dela e por isso, para elas, ela é a a-létheia, não-esquecida.

A verdade como lembrança e o conhecimento como reminiscência já aparecera, como vimos, num diálogo da juventude, o Mênon. Enquanto na República o Mito de Er complementa o Mito da Caverna respondendo à pergunta “Como quem vive desde sempre na aparência e na ilusão pode sair em busca da verdade?”, no Mênon, a reminiscência é apresentada para responder à pergunta “Como, ao encontrar uma verdade, sabemos que a encontramos?”. Nas duas ocasiões, a resposta de Platão __”conhecer é lembrar” __ consiste em afirmar que a alma aprendeu, antes da encarnação, tudo aquilo de que ela, novamente, adquirirá o conhecimento, de sorte que investigar e aprender é reativar um saber total que se encontra em estado latente na razão. Procurar e aprender é reencontrar um saber já adquirido que está esquecido. O filósofo dialético, como o médico que faz o paciente lembrar-se, suscita nos outros a lembrança do verdadeiro. Se já não tivéssemos estado diante da verdade, não só não poderíamos desejá-la como, chegando diante dela, não saberíamos identificá-la, reconhecê-la. No entanto, buscar e aprender não é simplesmente um esforço de memória, mas um trabalho de investigação realizado com instrumentos adequados e guiados pelas exigências de certeza e fundamentação do que se conhece ou se aprende. Além disso, as idéias não são entidades isoladas umas das outras e sim relacionadas entre si por laços necessários de concordância recíproca, de tal maneira que ao recordar uma idéia ou ter a intuição intelectual dela, a alma também se recorda de outras ligadas a esta primeira e intui conjuntos de idéias verdadeiras, adquirindo a epistéme.

O que se passa com o escravo do Mênon nos ajuda a compreender o processo de busca e aprendizado como investigação e recordação da verdade. Sócrates pede ao escravo que indique o comprimento do lado de um quadrado cuja superfície seja o dobro da superfície de um quadrado dado. Sócrates não espera que o escravo demonstre o Teorema de Pitágoras nem que faça cálculos numéricos envolvidos pelo teorema, uma vez que está envolvido com a complexa questão dos números desproporcionais ou dos irracionais. O que Sócrates espera? Simplesmente uma construção geométrica elementar. Antes de chegar à resposta correta (a diagonal do quadrado dado é a linha sobre a qual deverá ser construído o segundo quadrado para ser o dobro do primeiro), o escravo oferece duas respostas incorretas, que ele abandona, em cada caso, graças às perguntas de Sócrates, que lhe permitem reconhecer-se como ignorante. Reconhecida a ignorância, o escravo, ainda uma vez guiado pelas perguntas socráticas, começa a raciocinar sobre os dados do problema, buscando dentro de si mesmo ou de sua razão a resposta, até encontrá-la sozinho. Porque a encontra por si mesmo, sem haver recebido lições de geometria, Sócrates dirá que o escravo lembrou-se de algo que já sabia e que estava latente em sua alma. Ora, o que é então, lembrar-se? É exercer o pensamento para que este, por si mesmo, encontre uma verdade. Assim sendo,

A reminiscência, entendida como estado mental da rememoração, permite saber aquilo de que nos lembramos no momento em que nos lembramos disso. Nesse sentido, ela é um processo com duas faces: ao mesmo tempo reativação de um conteúdo latente ou recordação (anámnesis) e verdadeira aprendizagem quando referimos essa lembrança à consciência de ignorância que o precedeu. Longe de ser uma busca desordenada no seio das lembranças, o esforço de rememoração visa a uma verdade já possuída que orienta implicitamente tal esforço (M. Canto-Sperber “Platon”, in M. Canto-Sperber, org., p.216).

Os intérpretes se dividem muito acerca do significado do Mito do Er. Seria uma alegoria para dizer que os homens nascem dotados de razão, que as idéias são inatas ao seu espírito, que a verdade não pode vir da sensação, mas apenas do pensamento? Ou seria uma primeira apresentação da teoria platônica da imortalidade da alma que será exposta no Fédon? Por enquanto deixaremos a questão em suspenso e a ela voltaremos quando analisarmos a psicologia platônica. Aqui enfatizaremos dois pontos.

Em primeiro lugar, Platão, através de dois mitos __o da caverna e o de Er __, recupera a antiga noção da alétheia (o não-esquecido), ainda que a transforme profundamente, pois para um pensamento que toma a verdade com evidência, o verdadeiro não pode ser apenas a ação do ser sobre uma alma passiva, mas exige a atividade desta última, sua iniciativa para ter a retidão do olhar espiritual, isto é, capaz da correspondência entra a atividade cognitiva da alma e da idéia. O verdadeiro é a relação entre a inteligência e verdade. Em segundo, Platão precisa recorrer aos mitos para explicar por que, sem possuirmos conhecimentos verdadeiros, desejamos o conhecimento verdadeiro. Precisa explicar que, de algum modo, já estamos na posse de alguma noção (ainda que muito vaga) da verdade e que é ela que nos empurra para a dialética. Assim, independentemente da discussão sobre o que Platão realmente pensava dos mitos que narrou, podemos dizer que possuem a função de afirmar que nascemos no verdadeiro e destinados a ele. Sem isso, a dialética seria uma técnica impossível, pois não teria o que atualizar em nossa alma, não encontraria uma dýnamis para realizar sua obra. Os dois mitos significam que há na alma a tendência para o verdadeiro, mesmo que ela não esteja de posse da verdade.

p. 265-268

Glossário de termos gregos

Paideía: Educação ou cultivo das crianças, instrução, cultura. O verbo paideúo significa: educar uma criança (paîs-paidós em grego), instruir, formar, dar formação, dar educação, ensinar os valores, os ofícios, as técnicas, transmitir idéias e valores para formar o espírito e o caráter, formar para um gênero de vida. Da mesma família é a palavra Paidéia, ação de educar, educação, cultura.

Eikasía: Representação, imagem, conjetura, comparação. O verbo eikázo significa: representar, desenhar os traços, retratar, pintar a imagem, comparar uma coisa com outra semelhante, conjeturar sobre uma coisa a partir de outra. O verbo eíko significa: ser semelhante, assemelhar, parecer, ter o ar de. Da mesma raiz vem eikón: ícone, imagem (retrato, pintura, escultura), imagem refletida no espelho, simulacro, fantasma. Para Platão, as coisas sensíveis são como o eikón e por isso o grau mais baixo do conhecimento é a eikasía.

Dóxa: Opinião, crença, reputação (isto é, boa ou má opinião sobre alguém), suposição, conjetura. Esta palavra possui dois sentidos diferentes por ser usada em dois contextos diferentes: o contexto político, no qual foi usada inicialmente, e o contexto filosófico, a partir de Parmênides e Platão. Deriva-se do verbo dokéo, que significa 1) tomar partido que se julga mais adequado para uma situação; 2) conformar-se a uma norma estabelecida pelo grupo; 3) escolher, decidir, deliberar e julgar segundo os dados oferecidos pela situação e segundo a regra ou norma estabelecida pelo grupo. Era este o seu sentido na assembléia dos guerreiros que deu origem à assembléia política, na democracia. Como a escolha e decisão se davam a partir do que era percebido, dito e convencionado pelo grupo, dóxa ganha também o sentido de uma modalidade de conhecimento e, agora, articula-se ao verbo doxázo, que significa: ter uma opinião sobre algumas coisas, crer, conjeturar, supor, imaginar, adotar opiniões comumente admitidas. É neste segundo sentido que dóxa pode ter o sentido pejorativo de conhecimento falso, preconceito, conjetura sem fundamento, sem convenção, arbitrária.

Dýnamis: Aptidão, capacidade, faculdade, potencialidade, ou possibilidade para alguma coisa. Força da natureza, força moral, fecundidade do solo, eficácia de um remédio, valor de uma moeda, valor ou significado de uma palavra. Força militar. Força e poder para influenciar o curso de alguma coisa. É da mesma raiz do verbo dýnamai que significa: 1) ter poder para, ter capacidade e autoridade para; 2) ter valor, ter significação; 3) na matemática: elevar um número ao quadrado, ao cubo, aumentando sua potência; 4) potência. Quando usado como verbo impessoal significa “é possível”. A dýnamis se refere a um poder, a uma força ou potência de alguém ou de alguma coisa a quem torna possível certas ações. É possibilidade ou capacidade contida na natureza da coisa ou da pessoa. Em Aristóteles, significa aquilo que um ser pode vir a tornar-se no tempo, graças a uma potencialidade que lhe é própria. Na filosofia aristotélica, é a razão e racionalidade do devir, o poder para ser, fazer ou tornar-se alguma coisa.

Eîdos ou Idéa: Inicialmente, na linguagem comum dos gregos, significa o aspecto exterior e visível de uma coisa: a forma de um corpo, a fisionomia de uma pessoa. A seguir, na linguagem filosófica (com Platão), passa a significar a forma imaterial de uma coisa, a forma conhecida apenas pelo intelecto ou pelo espírito, a idéia ou a essência puramente inteligível de uma coisa. Significa também a forma própria de uma coisa que a distingue de todas as outras, seus caracteres próprios; por exemplo, a doença é um eîdos, uma forma que o médico reconhece. A palavra eîdos vem de uma raiz que aparece sob três formas: eid-, oid- e id-. De eid- forma-se além de eîdos, o verbo eídomai, que significa: mostrar-se, fazer-se ver. De oid- forma-se oîda (infinitivo eidénai), perfeito do verbo ver que significa saber (por ter visto), conhecer. De id- forma-se o aoristo do verbo ver, ideîn e o substantivo idéa com o mesmo sentido de eîdos: aspecto externo, aspecto visível, forma visível, caracteres próprios de alguma coisa, maneira de ser. Com Platão, idéa passa a significar: princípio geral de classificação dos seres, forma ideal concebida pelo pensamento. Com Aristóteles, idéa significa conceito abstrato diferente das coisas concretas. Eîdos, a forma inteligível, idéa o conceito, ideîn, ver, e oîda / eidénai, saber (por ter visto), conhecer, criam a tradição filosófica do conhecimento como visão intelectual ou visão espiritual, e da verdade como visão plena ou evidência. A idéia é a realidade verdadeira que o pensamento vê. Em oposição a eîdos está eídolon: imagem, reprodução, cópia, ídolo, fantasma, simulacro.

Alétheia: Verdade, realidade. Palavra composta pelo prefixo negativo a- e pelo substantivo léthe (esquecimento). É o não-esquecido, não-perdido, não-oculto; é o lembrado, encontrado, visto, visível, manifesto aos olhos do corpo e ao olho do espírito. É ver a realidade. É uma vidência e uma evidência, na qual a própria realidade se revela, se mostra ou se manifesta a quem conhece. A palavra grega difere de duas outras que vieram, com ela, formar a idéia ocidental da verdade: a palavra latina veritas, que se refere à veracidade de um relato; e a palavra hebraica emunah, que significa confiança numa palavra divina. Alethés, o verdadeiro, significa: o não-esquecido, o não-escondido; donde: sincero, veraz, justo, equitável, verídico, franco ou não-dissimulado.

Theoría: Teoria, ação de ver, observar, examinar para conhecer; contemplação do espírito, meditação, estudo; especulação intelectual por oposição à prática. Deriva-se do verbo theoréo: observar, examinar, contemplar. Inicialmente, este verbo se refere aos espectadores que contemplam os jogos olímpicos e os comandantes que passam em revista as tropas. A seguir, passa a significar os que contemplam com os olhos da inteligência ou do espírito e, portanto, que examinam as idéias, conceitos, essências, com o significado de raciocinar, pensar, demonstrar, julgar, meditar e refletir. A teoria é o conhecimento pelo conhecimento, sem preocupação com seu uso instrumental, com sua aplicação, com as técnicas.

Anámnesis: Ação de trazer à memória ou à lembrança; lembrança, recordação. Reminiscência. Na prática médica, o momento em que o paciente auxilia o médico no diagnóstico, lembrando-se de todos os acontecimentos que antecederam a doença e todos os sintomas do início da doença. Platão faz da reminiscência o centro da teoria do conhecimento, momento em que o intelecto se recorda de haver contemplado a verdade ou as idéias que já se encontram na alma como idéias inatas, isto é, idéias com que nascemos e de que precisamos lembrar.

Epistéme: Ciência; conhecimento teórico das coisas por meio de raciocínios, provas e demonstrações; conhecimento teórico por meio de conceitos necessários (isto é, daquilo que é impossível que seja diferente do que é; o que não pode ser de outra maneira, ser diferente do que é) e universais (isto é, válidos pra todos em todos tempos e lugares). Opõe-se à empeiría. O verbo epístemai, da mesma família de epistéme, significa: saber, se apto ou capaz, ser versado em (portanto, inicialmente, este verbo não distinguia nem separava epistéme e empeiría, mas referia-se a todo conhecimento obtido pela prática ou pela inteligência, referia-se à habilidade). A seguir, passa a significar: conhecer pelo pensamento, ter um conhecimento por raciocínio e, com Aristóteles, passa a significar investigar cientificamente.

Sobre a autora:

Marilena Chauí é professora de história da filosofia e de filosofia política na Universidade de São Paulo, onde leciona desde 1967, ano em que defendeu sua tese de mestrado sobre Marleau-Ponty e iniciou, na França, seus estudos sobre a filosofia de Espinosa. Além de desenvolver atividades acadêmicas, tem participado ativamente da vida política do país. Fez sua afirmação de Espinosa, de que a felicidade é a alegria de um corpo e de um espírito capazes de viver a multiplicidade simultânea de afetos e idéias.

Texto retirado do livro:


Autora: Marilena Chauí
Título: Introdução à história da Filosofia
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2002

Esse livro é um livro introdutório pra filosofia, pra iniciantes (como eu) e por isso não possui uma linguagem pesada, pelo contrário, a linguagem é bem leve e gostosa. O subtítulo do livro é: dos pré-socráticos a Aristóteles. A autora traça uma panomara geral do nascimento da filosofia, problematiza a origem da filosofia como sendo oriental ou grega, fala dos principais filósofos que antecederam Socrates, e também fala bastante de Platão e Aristóteles. É um excelente livro pra quem quer começar a estudar ou conhecer um pouco de filosofia!

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Oficina De Poesia PtII

Estúpido sarcástico não me importa
Que com jogos de palavras arcaicas!
Me faça enxergar ao longe o fronte de suas ofensas
Bom seria se te visse sofrer
Mas tu sofres... Não posso ver
Mas com palavras posso me jogar
Para o julgar de um lugar.

Que como em face de um encanto
Plagiando as brincadeiras
de um ser obstante
Que faz poeminhas de um amor distante
Aquele o qual pisa por um instante
Levanta-te da cadeira acenda mais um cigarro
No trunfo do poeta está vosso calo!


Danilo Negrão!

Poesia de minha autoria que foi criada em uma noite inusitada
em que eu e Gennaro fazíamos uma espécie de jogo poético
e que c tornou para mim um grito.
as vezes fica difícil dizer com palavras diretas tudo aquilo que pode ser verdadeiro contra algo, e nas poesias as palavras c encaixam tendo ela rima ou não.

e vale lembrar que não de poesias eh feito cultura, existem diversas formas da gente trazer cultura ao conhecimentos de todos. No caso do tópico chamar oficina de poesia eh para dar uma ilustrada. porém pode ser trazido notas criticas sobre trabalhos culturais informações diversas coisas para tornar mais interessante a parte de cultura!

domingo, 20 de abril de 2008

Indicações Bibliograficas.

No ambito Cultural que é o real proposito do Projeto Kane, estaremos sempre com posts sobre livros, e temos tambem a ofinica poética.
para comecar trarei contribuições de alguns membros algumas indicações, mas sempre estarei atualizando com novas indicações e comentários.
vamos la:

Marilena Chauí

Um breve comentário sobre a democracia ateniense:

Com a reforma de Clístenes, inicia-se a democracia (démoi, os cidadãos; krátos, o poder: o poder dos cidadãos). Para avaliarmos a originalidade dessa instituição, basta que comparemos seu nome e o dos outros três regimes políticos, isto é, monarquia, oligarquia e anarquia. Podemos observar que estes últimos são palavras compostas com um derivado de arkhé, isto é, arkhía, termo que designa a função suprema do governo. A monarkhía atribui a um só (monas) a função soberana de governo; a oligarkhía a atribui a alguns (oligói); e a anarkhía, usando um prefixo negativo (an) indica que ninguém exerce a função de governo. Em vez de demoarkhía, a palavra escolhida foi demokratía, em que krátos (força, poder, senhorio) não designa uma função __a função de governo __ e sim o princípio da própria soberania, ou seja, os cidadãos. Assim, se aristokratía quer dizer o poder dos melhores ou dos excelentes (áristoi), demokratía quer dizer o poder do démos. Poderíamos supor que se a palavra democracia não designa a função soberana de governo, então ninguém a exerce e o regime seria uma espécie de anarquia ou falta de governo. Não é, porém, o caso. Qual é o poder do demos? A força das leis. Na democracia, a função soberana não cabe a alguém ou a alguns, mas à lei; e a desobediência a ela é anarquia.

Página 133

(...) é uma democracia direta ou participativa e não uma democracia representativa, como as modernas. Em outras palavras, nela os cidadãos participam diretamente das discussões e da tomada de decisão, pelo voto. Dois princípios fundamentais definem a cidadania: a isonomia, isto é, a igualdade de todos os cidadãos perante a lei, e a isegoría, isto é, o direito de todo cidadão de exprimir em público (na Boulé ou na Ekklesía) sua opinião, vê-la discutida e considerada no momento da decisão coletiva. Assim, a democracia ateniense não aceita que, na política, alguns possam mais que outros (exclui, portanto, a oligarquia, isto é, o poder de alguns sobre todos); e não aceita que alguns julguem saber mais do que outros e por isso ter direito de sozinhos, exercer o poder. Desse modo, exclui da política a idéia de competência ou de tecnocracia. Na política, todos são iguais, todos têm os mesmos direitos e deveres, todos são competentes.


Reflitam: vivemos hoje no Brasil sob um regime de democracia representativa, e não participativa como era a democracia ateniense. Vocês concordam com isso? Vocês concordam com o voto obrigatório? O que é democracia pra vocês?


Página 134

Para um cidadão ateniense seria inconcebível e inaceitável que alguém pretendesse ter mais direito e mais poder que os outros se valendo do fato de conhecer alguma coisa melhor do que os demais. Em política, todos dispunham das mesmas informações (quais eram as leis, como operavam os tribunais, quais os fatos que iriam ser discutidos e decididos), e possuíam os mesmos direitos, sendo iguais. A democracia ateniense julgava tirano todo aquele que pretendesse ser mais, saber mais e poder mais do que os outros em política.


Página
134


Texto retirado do livro:


Autora: Marilena Chauí
Título: Introdução à história da Filosofia
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2002

Esse livro é um livro introdutório pra filosofia, pra iniciantes (como eu) e por isso não possui uma linguagem pesada, pelo contrário, a linguagem é bem leve e gostosa. O subtítulo do livro é: dos pré-socráticos a Aristóteles. A autora traça uma panorama geral do nascimento da filosofia, problematiza a origem da filosofia como sendo oriental ou grega, fala dos principais filósofos que antecederam Sócrates, e também fala bastante de Platão e Aristóteles. É um excelente livro pra quem quer começar a estudar ou conhecer um pouco de filosofia!

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Li recentemente o Pedagogia da Autonomia, do Paulo Freire.
Achei interessante postar aqui porque mostra como age essa maldita ideologia que só favorece a elite dominante, que até a educação dá vida nisso, mas que pode desmascará-la.
Não tem muito a ver com televisão, mas dá pra ser associado ao tema muito facilmente. Tem uma linguagem bem simples e traz esse espírito de insatisfação e revolta contra o neoliberalismo manipulador. E Paulo Freire é sempre bom ler!

Não tenho o link pra download, mas comprei-o por um preço de sebo: 9, 00, e não é difícil achar. Acredito que na Saraiva custa 10,00.

PEDAGOGIA DA AUTONOMIA
Autor
: Paulo Freire
Editora: Paz e Terra


(Indicação Roger).


A Influência da Televisão no Desenvolvimento Biopsicosocial da Criança, também com o nome "Cuidado TV Vicia", de Jorge N. N. Schemes. Baixei esse livro na internet.
Link:www.adventistas.com/downloads/cuidado_tv_vicia.doc (indicação Alexandre).


Sobre Nossa Divulgação

Só podemos divulgar as informações na Internet?

De maneira alguma, de acordo com as possibilidades de cada um, divulguem as informações na sua família, com seus amigos, na sua comunidade, não pense que todos sabem daquilo que você sabe, fale sobre o assunto de maneira séria e apresente provas daquilo que você está falando.
Por exemplo, se você é professor leve à sala de aula o filme para seus alunos assistirem, discuta com eles as relações de poder entre a política, a televisão e o povo e de como o povo fica sempre em último lugar, controlado pela máquina do poder e da ideologia.
Você pode divulgar as informações do Projeto Kane onde quiser, na sua rádio comunitária, criar cartazes e espalhar pela cidade, gravar o filme e distribuir GRATUITAMENTE, enfim, faça aquilo que estiver de acordo com as suas possibilidades financeiras e temporais. Nós do Projeto Kane não cobramos de maneira alguma aquilo que um militante não possa fazer. Contamos com aquilo que cada um pode dar para o Projeto Kane e não exigimos nada, além disso.


Participem da comunidade: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=47708877


Não se esqueçam dos nossos princípios e que isso é só um modelo. Sintam-se a vontade pra postar outras coisas e respeitando sempre a coletividade e o desejo do nosso grupo

Obrigado pela participação de todos!

Cultura: A gente vê por aqui - Oficina de Poesia

Ao contrário do que o mecanismo ideológico global faz com a população brasileira, nós do Projeto Kane daremos, sim acesso à cultura a nós mesmos e a todos que estiverem interessados. É muito fácil e ideológico dizer "Cultura a gente vê por aqui" uma vez que a Globo não possui sequer um programa que se possa dizer cultural, comparado com a única rede de televisão pública que realmente faz programas culturais: A Cultura.
Novela é cultura? Jornal Nacional é cultura? Fantástico é cultura? impossível de ser cultura, pois esses programas só existem porque são patrocinados por conglomerados empresariais, detentores do capital financeiro e que não querem de maneira alguma que o povo alcance aquilo que é de direito do povo: educação e cultura. A burguesia parasitária do povo diz que "a educação é um direito de todos", mas não faz praticamente nada pra melhorar o ensino no país, ao contrário, patrocina o mesmo espetáculo macabro que é exibido todos os dias na famosa novela das oito obrigando o povo a desejar um modo de vida luxuoso que nós sabemos, está muito aquém do que à maioria pode comprar.

CONSIDERAÇÃO DO POEMA

Não rimarei a palavra sono
com a incorrespondente palavra outono.
Rimarei com a palavra carne
ou qualquer outra, que todas me convêm.
as palavras não nascem amarradas,
elas saltam, se beijam, se dissolvem,
no céu livre por vazes um desenho,
são puras, largas, autênticas, indevassáveis.

Uma pedra no meio do caminho
ou apenas um rastro, não importa.
Estes poetas são meus. De todo orgulho,
de toda a precisão se incorporaram
ao fatal meu lado esquerdo. Furto a Vinicius
sua mais límpida elegia. Bebo em Murilo.
Que Neruda
me dê sua gravata
chamejante. Me perco em Apollinaire. Adeus, Maiakovski.
São todos meus irmãos, não são jornais
nem deslizar de lancha em camélias:
é toda minha vida que joguei.

Estes poemas são meus. É minha terra
e é ainda mais do que ela. É qualquer homem
ao meio-dia em qualquer praça. É a lanterna
em qualquer estalagem, se ainda as há.
__Há mortos? Há mercados? Há doenças?
É tudo meu. Ser explosivo, sem fronteiras,
por que falsa mesquinhez me rasgaria?
Que se depositem os beijos na face branca, nas principiantes rugas.

O beijo ainda é um sinal, perdido embora,
da ausência de comércio,
boiando em tempos sujos.

Poeta do finito e da matéria,
cantor sem piedade, sim, sem frágeis lágrimas,
boca tão seca, mas ardor tão casto.
Dar tudo pela presença dos longínquos,
sentir que há ecos, poucos, mas cristal,
não rocha apenas, peixes circulando
sob o navio que leva esta mensagem,
e aves de bico longo conferindo
sua derrota, e dois ou três faróis,
últimos! Esperança do mar negro.
Essa viagem é mortal, e começá-la.
Saber que há tudo. E mover-se em meio
a milhões e milhões de formas raras,
secretas, duras. Eis ai meu canto.

Ele é tão baixo que sequer o escuta
ouvido rente ao chão. Mas é tão alto
que as pedras o absorvem. Está na mesa
aberta em livros, cartas e remédios.
Na parede infiltrou-se. O bonde, a rua,
o uniforme de colégio se transformam,
são ondas de carinho te envolvendo.

Como fugir ao mínimo objeto
ou recusar-se ao grande? Os temas passam,
eu sei que passarão, mas tu resistes,
e cresces como fogo, como casa,
como orvalho entre dedos,
na grama, que repousam

Já agora te sigo a toda parte,
e te desejo e te perco, estou completo,
me destino, me faço tão sublime,
tão natural e cheio de segredos,
tão firme, tão fiel... Tal uma lâmina,
o povo, meu poema, te atravessa.

Carlos Drummond de Andrade - A Rosa do Povo - RECORD - 35 ed. p.21-23

Projeto Kane: nosso objetivo principal

Criar uma ampla rede de divulgação das nossas idéias e do filme MUITO ALÉM DO CIDADÃO KANE


Segue abaixo uma pequena explicação da nossa postura.
Vou postar uma sugestão de um modelo que pode ser divulgado nas comunidades do orkut, nos blogs, etc, mas é apenas uma sugestão

O Projeto Kane consiste em se criar uma ampla rede de divulgação das informações que são nocivas as organizações Globo, principalmente o filme MUITO ALÉM DO CIDADÃO KANE, daí o nome do projeto. Eu e mais alguns amigos, a citar, Danilo e Daniel aqui do Projeto fomos os idealizadores dele, mas todos vocês que estão aqui também são idealizadores, vocês são mais do que isso, vocês são idealistas e acreditam em mudanças no nosso país marcado pelo signo da mentira e do cinismo.

Por quê divulgar sendo que existe uma comunidade do filme?

Há um motivo muito claro pra nós do Projeto sobre isso, que é o fato da maioria esmagadora das pessoas que não gostam das organizações Globo não moverem uma palha pra mudar nada, elas assistem ao filme, começam a falar mal da emissora e de um ou outro programa e não procuram fazer absolutamente nada pra mudar essa situação.
Nós, do Projeto Kane, e eu falo em nome de todos militantes, nós queremos e vamos, sim, fazer muita coisa para atacar essa rede de corrupção e mentiras que assola o Brasil. Nós do Projeto Kane defendemos uma televisão pública e de qualidade nos moldes da TV Cultura e iremos lutar pra isso.

Como podemos fazer para divulgar as informações e quais informações devem ser divulgadas?

I

Nós do Projeto Kane temos o intento de fazer um contra ataque ideológico frente às organizações Globo, divulgando o filme MUITO ALÉM DO CIDADÃO KANE não apenas nas comunidades do Orkut que já se intitulam anti-globais, mas, principalmente, naquelas que não necessariamente tenham a ver com o Projeto Kane. Vamos divulgar em todas as comunidades, mas não seremos SPAM. Antes de divulgarmos qualquer matéria anti-global, o filme, artigo, etc iremos consultar o dono da comunidade e lhe pedir autorização. Se for concedido o direito de postar na comunidade postaremos, caso contrário não postaremos de maneira alguma. Qualquer postagem sem autorização em comunidades, blogs, sites, não é aprovada pelo Projeto Kane. Nós do Projeto Kane acima de tudo priorizamos o respeito e a democracia.


II

Ainda há uma ressalva relativa à qual tipo de informação devemos divulgar, e nesse sentido nós do projeto priorizamos a verdade, para agirmos diferente daquele canal que lutamos contra. Qualquer notícia, entrevista, matéria, artigo, tese, documento, enfim, qualquer informação que for divulgada sobre as organizações globo tem necessariamente que possuir uma fonte, e ela deve ser obrigatoriamente citada no final. Não é de autoria do Projeto Kane qualquer informação que seja divulgada sem a fonte, mesmo que a mesma seja publicada por um membro.

sábado, 19 de abril de 2008

Nosso Calendário

Calendário Republicano

Instituído pela Convenção Nacional em 1793, durante a Revolução Francesa (1789). É um calendário de base solar. O ano começa no equinócio de outono (22 de setembro, no hemisfério norte), data da proclamação da República francesa. É composto de 12 meses de 30 dias, com mais cinco ou seis dias complementares, consagrados à celebração de festas republicanas. No total, são 365 dias e a cada quatro anos há um bissexto. Os nomes dos meses republicanos são baseados nas condições climáticas e agrícolas: vendemiário, brumário, frimário (no outono); nivoso, pluvioso, ventoso (no inverno); germinal, florial, pradial (na primavera); e messidor, termidor e frutidor (no verão). Os meses são subdivididos em três períodos de dez dias, chamados "décadas". Os dias de cada década recebem o nome de primidi, duodi, tridi, quartidi, quintidi, sextidi, septidi, octidi, nonidi e decadi. Em 1805, Napoleão I substitui o calendário republicano pelo gregoriano.

Discussões a cerca da atitude:

Diferença entre Revolução e Revolta

__É uma revolta?
__Não, Majestade, é uma revolução!

Diálogo entre Luís XVI e o Duque de Liancourt, depois do assalto à Bastilha em 14 de Julho de 1789.

A Revolução é a tentativa, acompanhada de violência, de derrubar as autoridades políticas existentes e de as substituir, a fim de efetuar profundas mudanças nas relações políticas, no ordenamento jurídico-constitucional e na esfera socioeconômica. A Revolução se distingue da rebelião ou revolta, porque esta se limita geralmente a uma área geográfica circunscrita, é, o mais das vezes, isenta de motivações ideológicas, não propõe a subversão total da ordem constituída, mas o retorno dos princípios originários que regulavam as relações entre autoridades políticas e os cidadãos, e visa à satisfação imediata das reivindicações políticas e econômicas. A rebelião pode ser acalmada tanto com a substituição de algumas das personalidades políticas, como por meio de concessões econômicas.

Norberto Bobbio & outros, Dicionário de Política. 12 ed. Brasília: UNB, 1999, p.1121

Resta uma questão: Nós, do Projeto Kane, somos revoltados ou revolucionários?

A Revolução constitui em si só, a Luta por dada causa quando tudo o que acontece vai contras os preceitos de uma sociedade democrática, e livre.

A revolta Faz barulho em torno de simples causas minimalistas, não usando de subterfúgios a não ser a Baderna, e da destruição sem fins, o que se trata de crime não justificado.

Na Revolução se pratica atos foras da Lei no intuito de restaurar uma lei mais plausível para toda uma sociedade (o que de fato é o principio correto da anarquia, diferente do que muitos pensam).

Na Revolta se pratica atos Criminosos sem fundamento, seja depredação ou ataques infundados de uma minoria que busca apenas uma causa menor e quer torna-la maior.


Nós do Projeto Kane;
Somos Revolucionários, estamos em busca de uma culturalização social, a fim de desbastar uma potencia da Mídia que insiste em insultar a inteligência de quem os vê, o que porem a sociedade não percebe.
A Rede Globo pratica Crime de ocultação de informações culturais, distorção da cultura nacional, sensacionalismo anti-politico, dentre outros.

Pensem nestas questões para poderem entender nossos atos em relação ao projeto.

Acerca da nossa Base Ideológica

Base ideológica: Revolução Francesa

Amigos vou propor a base ideológica da nossa revolução que é mais do que uma revolução armada, é uma revolução poética! Para isso utilizaremos como base revolucionário os acontecimentos que permearam a Revolução Francesa.
Da mesma forma que eles conseguiram guilhotinar um Rei e uma Rainha nós também conseguiremos. Conseguiremos um país mais justo para todos e para isso necessitamos derrubar os símbolos, e o símbolo mais poderoso da apatia e da manipulação parasitária do povo brasileiro é a Globo. Ontem a Bastilha, hoje a Rede Globo!
Mais tarde postarei mais informações acerca do assunto, e se quiserem sintam-se a vontade para postarem também!

Projeto Kane

Processo de formação: Amigos estamos em processo de formação do Projeto Kane, mas nada foi definido ainda devido à escassez de membros no nosso projeto. NADA no projeto será desenvolvido sem a aprovação dos membros mediante votação, deste modo, nós priorizamos o veículo democrático.
Por ora explicarei basicamente qual é a intenção primeira do Projeto Kane. O projeto consiste em criar uma ampla rede de divulgação de informações que são escondidas de maneira criminosa pelas Organizações Globo; já é hora dos brasileiros tomarem ciência das mentiras que este canal que é um dos mais poderosos e influentes do mundo escondem do povo.
A minha idéia inicial é de criarmos o projeto com suas diretrizes, para isso, por exemplo, posso digitar a linha mestra das nossas idéias e colocar aqui para aprovação mediante votação de todos os membros.
O Projeto Kane será um projeto íntegro e verdadeiro, para isso teremos de divulgar as informações baseadas em fontes. NÃO podemos divulgar informações atacando direta ou indiretamente as Organizações Globo sem uma fonte, por exemplo, matéria de jornal, revista, telejornal, entrevista, etc. Acredito que seja necessário ao divulgar a informação informarmos a fonte, a data em que foi divulgada, enfim, todas as informações acerca dela.
O Projeto Kane é um projeto que leva em conta as possibilidades financeiras, de tempo e espaço de cada um, portanto, cada um PODERÁ FAZER APENAS O QUE ESTIVER NO ALCANÇE, nada mais.
A informação mais relevante do Projeto Kane que é o nosso braço direito, sem dúvida algum, é o MUITO ALÉM DO CIDADÃO KANE, e devemos divulgá-lo também na internet, no nosso bairro, em escolas públicas, buscar apoio de ONG's, rádios comunitárias, etc.
Mas tudo isso de acordo com o que cada um pode fazer.
Gostaria de dizer aos participantes que qualquer ajuda que necessitarem com texto, digitação, correção, recorram aqui para podermos ajudar.
Antes de divulgarem qualquer informação nas comunidades do Orkut, Blogs, etc, peçam ao DONO da comunidade para postar a informação.