domingo, 11 de maio de 2008

O papel político da mídia – Caso Venezuela

Quando analisamos o papel desempenhado pela mídia na sociedade é impossível não se deparar com a forte influencia política que a esta exerce, a mídia elege ou depõe o político que quiser, o caso do golpe de estado ao presidente venezuelano Hugo Chavez, ocorrido em abril de 2002 deixou que este problema não é exclusividade do povo brasileiro. Este episodio deixou claro que a mídia concentrada nas mãos de poucos é uma ameaça a democracia, como o poder popular pode ser respeitado num cenário onde poucos grupos empresariais controlam os veículos de formação de opinião e não cumprem seu papel de levar noticias imparcialmente a sociedade?

O ambiente político que levou a oposição a realizar o golpe foi bem sugestivo, alem do descontentamento geral por parte dos “poderosos” com o governo Chávez por conta de este governante ter políticas que visavam atender as classes mais pobres da Venezuela, dias antes do golpe, o presidente venezuelano trocou completamente todos os cargos de confiança do executivo da estatal venezuelana PDVSA, empresa petrolífera da Venezuela, ao mexer no domínio do petróleo Chavez mexeu tanto com a elite da Venezuela, quanto com setores dos EUA, que sempre tiveram na Venezuela uma fonte de petróleo barato.

O papel da mídia neste ambiente foi lamentável, como a oposição dominava os meios de comunicação social, fizeram tudo para demonizar o presidente Chávez, o colocava como um cidadão psicologicamente instável, um demagogo, um corrupto, criavam polemicas e conflitos entre ele e a hierarquia da igreja católica, na medida do possível criavam tensões na área internacional, um verdadeiro massacre gerado pela mídia a figura do presidente, com objetivo de minar a confiança popular que Chávez tinha.

Uma central sindical, CTV, financiada pelo patronato da Venezuela desempenhou um papel principal no desenvolvimento do golpe, ao buscar apoio nas camadas da pequena burguesia, junto a Fedecamaras, contra o presidente Chávez.

No dia dez de abril a Fedecamaras, junto a CTV, anunciam paralisação geral na Venezuela, a greve duraria inicialmente dois dias, porem a partir desta paralisação a oposição ao governo Chavez começa as manobras para concretizar o golpe. Eles incitam conflitos em manifestantes pro e contra o governo, colocam franco-atiradores para disparar contra manifestantes chavistas, e assim estava formado o caos, dez pessoas foram mortas nestes dias, e os militares que estavam aliados com a oposição, alegando que o Chavez havia renunciado por conta das pressões internas gerados pelas supostas violações de direitos humanos, dão o golpe e colocam no governo Pedro Carmona, presidente da Fedecamaras.

Para provar que as intenções dos golpistas eram democráticas, eles “fecham” o congresso nacional, declaram dissolvido o supremo tribunal e o ministério publico, declaram que a constituição não existe que foi feita pelo “autoritário” Chavez e assim não tinha validade.Uma onda de violência irracional tomou conta das ruas de Caracas, casas de ministros foram de pedradas, a embaixada de cuba no pais foi isolada por grupos de arruaceiros que cortaram água e luz e isolaram o prédio, nas ruas depredavam carros, e ameaçavam e injuriavam o embaixador e os funcionários.

Mas, e a mídia nisto tudo, como se comportou? O ate então gerente de produção da emissora RCTV Andrés Izarra, em seu livro “Chavez e os meios de comunicação social” conta qual era a ordem dos dirigentes da RCTV: "Na manhã do dia 12 de abril, depois de uma reunião dos diretores do canal, chegaram instruções que proibiam a veiculação de informações relativas a Chávez, seu paradeiro, seus seguidores, seus parlamentares. A ordem foi clara: tirem o chavismo da tela", no dia do golpe de estado, o principal canal de mídia se calou, e preferiu passar desenho animado a dar alguma informação sobre o caso, nos poucos momentos em que foi falado do golpe na mídia, eram as gargalhadas que os dirigentes comemoravam o golpe, colocavam tudo como uma “renuncia” do presidente, colocavam que agora a democracia voltava a Venezuela.

A casa de Marcel Granier, proprietário da RCTV serviu de “QG” do golpe, que teve como mais forte vetor o apoio da mídia. Na outra ponta do golpe estava Ari Fisher, porta-voz da casa branca, que acusava Chavez de ser o principal culpado pelo golpe, prometeu total apoio ao novo governo, e elogiou a ação dos golpistas. O FMI declarava que daria total apoio aos golpistas.

Pouco a pouco no dia 12 de abril, os “chavistas” foram tomando consciência de que estava realmente acontecendo e o cenário político mudou completamente, o povo saiu às ruas, os manifestantes tomaram das ruas e exigiram o retorno do presidente Chavez, havia manifestações a favor de Chavez também nas forças armadas, pouco após, enquanto a multidão ocupava a rua, o comandante do exercito Efrain Vasquez, intimou o novo governo a respeitar a ordem constitucional, senão iria perder totalmente o apoio por parte dos militares. Desse momento em diante o pânico toma conta dos golpistas, Pedro Carmona numa medida de total desespero tentou sem sucesso retomar o controle do pais revogando os decretos que dissolviam o congresso e o supremo tribunal, mas, já era tarde.

Os militares retomam o palácio de Miraflores, Carmona foge para a fortaleza de Tiuna, depois disso a volta de Chavez era questão de tempo, o deputado Juan Barreto convoca reunião da assembléia nacional no único canal de televisão estatal, e dirige um ultimato à oposição exigindo saber aonde se encontrava o presidente Chavez – preso, ate então – e às quatro e meia da madrugada do dia 14 de abril Chavez entra no palácio de Miraflores, e reassume o poder. Não provoca uma grande repressão aos golpistas e nem fuzila nenhum deles, coloca seu mandato nas mãos do povo novamente, convocando um referendo para saber se deveria ou não continuar no poder.

Este episódio mostra que o poder da mídia concentrado nas mãos de poucos empresários é uma ameaça a democracia, em nenhuma democracia seria a mídia pode concentrar tanto poder, colocar em cheque este poder é um dever de todo cidadão, a mídia tem função de informar, e não de “desinformar” o cidadão, não é admissível que empresários usem os meios de comunicação para manipular a população, e assim exercer poder político na sociedade. O modelo de mídia adotado tanto na Venezuela como no Brasil deve ser reformulado, para que se evite que episódios assim sejam repetidos, e a soberania popular seja desrespeitada respeitada, manter este sistema é ir contra a democracia, tirar do povo o poder e transferir para as mãos de uma elite econômica.