sexta-feira, 10 de outubro de 2008

8 DE OUTUBRO

Em 8 de outubro de 2008 se comemora o 41 aniversário da morte de Che.
Um dia para relembrar não a sua morte, mas a vida e o exemplo desse homem, que foi capaz de lutar e morrer por uma América Latina melhor e mais unida!

A morte de Che Guevara

"É o meu destino : hoje devo morrer!
Mas não, a força de vontade pode superar tudo!
há obstáculos, eu reconheço!
não quero sair....
Se tenho que morrer será nesta caverna (...).
Morrer, sim, mas crivado de balas, destroçado pelas baionetas
Uma recordação mais duradoura do que meu nome
É lutar, morrer lutando"
Ernesto Guevara de la Serna, janeiro de 1947.

Desde que dois bolivianos, integrantes da guerrilha comandada por Che Guevara instalada na região do Ñacahuazú, a uns 250 quilômetros ao sul de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, desertaram, os militares tiveram quase certeza que aquele a quem denominavam “Ramón”, era de fato o Che. Há dois anos, desde sua carta de despedida, lida publicamente por Fidel Castro, em outubro de 1965, que ninguém, a não ser o alto comando cubano, sabia do seu paradeiro. Em pouco tempo, assessores militares norte-americanos desembarcaram em La Paz, capital da Bolívia, para instruir o mais rápido possível um batalhão de Rangers, adestrados na contra-insurgência, capazes de sair à caça dos guerrilheiros. As certezas da CIA e das autoridades bolivianas, da presença de Che, aumentaram ainda mais quando capturaram, em Muyupampa, um vilarejo no sul do país, no dia 20 de abril de 1967, o intelectual francês Regis Debray, um agente de ligação de Fidel com Che, e o argentino Ciro Bustos. Tornou-se evidente que a presença dos dois estrangeiros se devia a razões de um plano mais vasto de operações militares. Debray, depois de torturado, confessou que “Ramón” era mesmo o Che.
Entrementes, Che havia dividido seus homens - formado em sua maioria por cubanos, alguns bolivianos, um par de peruanos e uma mulher, Tânia, uma teuto - argentina que integrara-se na luta - em duas colunas, a de Joaquim e a dele. O grupo de Joaquim foi exterminado em Vado del Yeso, quando tentava atravessar os rios Acero e Oro. O de Guevara, reduzido a 17 homens, foi cercado, no 11º mês de manobras, num canyon em La Higuera, pelas tropas do capitão Gary Prado, no dia 8 de outubro de 1967. Depois de intenso tiroteio, com sua arma avariada e com a perna trespassada por uma bala, Che Guevara rendeu-se. Sua aparência era assustadora, parecia um mendigo, magro, sujo e esfarrapado. Levaram-no para um casebre em La Higuera que servia como escola rural. Lá, na tétrica companhia dos cadáveres de dois jovens guerrilheiros cubanos, ele passou sua última noite. Foi interrogado pelo ten-cel. Andrés Selich ao qual apenas confessou ter sido derrotado, lamentando que nenhum camponês boliviano tenha aderido aos seus propósitos.
No dia seguinte, 9 de outubro, por rádio, veio a ordem de La Paz para que o executassem. O agente cubano-americano da CIA, Félix Rodrigues, desejava levar Che como prisioneiro para o Panamá para interrogá-lo, mas o Gen. René Barrientos, presidente da Bolívia, fora muito claro.
Coube ao sargento Mário Terán, disparar-lhe uma rajada de balas quando Che ainda estava deitado no chão batido da escola. Morreu aos 39 anos. Removeram-no para Vallegrande onde foi exposto sobre umas pias da lavandeira de um pequeno hospital. Lá amputaram-lhe as mãos para conferir com suas digitais existentes na Argentina. Antes, tiram várias fotos. Surpreendentemente ele, ferido e estirado, parecia-se com uma daquelas telas do Barroco que retratam o Cristo caído. Seu olhar fixo parecia tranqüilo, como se não fosse surpreendido pelo desastre. Consumava-se assim a sua idéia da morte como martírio. Ele, e mais sete outros, foram enterrados numa cova anônima nas proximidades do pequeno aeroporto de Vallegrande, sob o mais absoluto sigilo. Durante os 28 anos seguintes ninguém manifestou-se a respeito, até que o Gen. reformado Mário Vargas Salinas informou ao jornalista Jon Lee Anderson aonde jogaram o cadáver. Depois de dois anos de escavações, peritos cubanos e argentinos, encontraram finalmente seus ossos. Foram transladados para Cuba, onde foram recebidos por Fidel e Raul Castro com honras de estado. Nesses trinta anos que se passaram Che Guevara havia deixado a História para adentrar na Mitologia da América Latina.


MANIFESTO – “CARTA AO COMPANHEIRO CHE”

por Mauro M. Braga – Grupo OLLA

Ernesto Guevara, nosso inspirador “Che”: queria que você estivesse aqui e pudesse testemunhar o que vou brevemente relatar.
Foi profética a fala de seu amigo Fidel ao ironizar a arrogância dos que acreditavam que, tirando sua vida, Che, estariam dando um golpe definitivo nos revolucionários da América. Era claro para ele e para todos nós que seu martírio produziria efeito contrário, mitificando o espírito rebelde e transformando-o em energia libertadora que transcenderia tempos e espaços. Ah, companheiro, se você estivesse aqui agora, veria no que virou sua amada América Latina.
Você veria que Cuba, hoje, não está mais sozinha. Nossos movimentos populares, sempre inspirados em você, venceram uma a uma as tantas ditaduras que nos assombravam. E nossos votos realizaram incríveis prodígios por aqui. Pra você ter uma idéia, os generais de ontem deram lugar a indígenas, operários, padres ligados à Teologia da Libertação, mulheres... Essa nova América Latina, cada vez mais solidificada, cada vez mais unida, cada vez mais esquerdista e popular, estremece as bases de sustentação das elites, das oligarquias, dos imperialistas. Você se orgulharia de nós, companheiro Che.
Se orgulharia ao ver que a Cuba que você tanto amou segue seu caminho de promoção de justiça social, superando todas as dificuldades e ainda servindo de inspiração para todos os que sonham com um Outro Mundo Possível. Superando o fim da URSS, o maior embargo econômico da história, as constantes ameaças e provocações do vizinho imperialista, os furacões, Cuba segue de cabeça erguida. Povo guerreiro, que você conhece bem. Se orgulharia em ver que Cuba já não precisa mais exportar guerrilhas para a África ou a América Latina, como na sua época. Cuba, amigo Che, hoje exporta solidariedade, exporta médicos. O governo cubano envia milhares deles a países necessitados. Comandante Guevara, você sabe que, nesse próximo primeiro de janeiro, Cuba comemora 50 anos da vitória da Revolução – e seremos sempre todos gratos a você por ter sido tão imprescindível nessa linda página da história latino-americana. Fui testemunha no ano passado da paixão dos cubanos por você.
Mas há muito mais por que se orgulhar. Você veria, por exemplo, que nossos pobres camponeses foram capazes de criar, no Brasil, um movimento como o MST – o maior movimento popular do planeta. É verdade que a ampla reforma agrária latino-americana com a qual você sempre sonhou, amigo, ainda está longe de ser conquistada. A resistência, você sabe, é enorme. No entanto, aprendemos com você o quanto devemos ser perseverantes e pacientes, pois a vitória final virá – cedo ou tarde. Hoje nós já temos poder e organização para combater o latifúndio improdutivo, a especulação, o coronelismo, as milícias de jagunços. Os poderosos proprietários, que sempre foram quase intocáveis na América Latina, agora tremem diante do MST e dos camponeses organizados.
De onde você está hoje, Che, espero que possa ver que estamos assistindo de camarote à queda do império, corroído em suas próprias entranhas pela doença cega e terminal da sociedade de consumo, que agoniza nas suas crises financeiras, ecológicas, sociais e institucionais. Essa falência de um modelo, por outro lado, inspira a cada dia o movimento dos cidadãos de bem, que sempre sonharam com um outro mundo possível e que hoje fazem disso seu slogan, seu objetivo de vida e de luta, reunindo-se numa verdadeira revolução global chamada Fórum Social Mundial. Seu nome, comandante Che, como sempre, é um dos mais exaltados e aclamados nas reuniões dessa nova classe de revolucionários.
Enquanto o Império desmorona, nossa América Latina estabelece novas bases políticas, inspirando-se em Simon Bolívar e José Marti e construindo o “Socialismo do Séc. XXI”. Você se surpreenderia, Che, em saber que hoje proliferam por aqui governos de esquerda ou de centro-esquerda – com bases populares, tentando usar as inúmeras riquezas desse continente para promover inclusão social e distribuição de renda, e não mais para remeter divisas ao exterior ou enriquecer oligarquias. Buscando restabelecer as funções do Estado, sempre tão necessárias para as classes mais humildes e rompendo com as tragédias geradas pelo neoliberalismo. Buscando criar laços com a África e a Ásia, fortalecendo a voz dos povos periféricos do mundo e rompendo com séculos de subserviência latino-americana, primeiro aos colonizadores, depois à Inglaterra e por fim aos EUA. Chávez, Correa, Moralez, Lula, Bachelet, Lugo, etc... são nomes que simbolizam uma nova América Latina, com a qual gente da sua e da minha geração sempre sonhou, companheiro Che. Você precisava ver o quanto a mídia elitista gosta de atacá-los, desrespeitá-los, satirizá-los de forma caricata, o quanto as elites articulam para sabotar seus mandatos e seus programas de governo. Mas o resultado é inverso, pois sua popularidade só faz aumentar. Aliás, Che, essa mesma mídia também costuma voltar suas baterias de ataque a figuras que inspiram todo esse processo, como você, companheiro. Você não tem idéia das barbaridades que a nojenta revista “Veja” publicou a seu respeito no ano passado. Mas deixa pra lá: quem busca esse tipo de informação, no fundo, a merece, você não acha? Matérias como aquela são sintomas do desespero das elites que vêem, aos poucos, o chão ruir sob seus pés nessa nova América Latina.
Finalmente, Comandante Che, e de forma especial, eu gostaria de me referir a uma questão. Quisera você pudesse testemunhar o levante dos seus irmãos indígenas, cuja história de exploração lhe comoveu tanto desde os tempos em que você, ainda muito jovem, buscava seu destino viajando pelos Andes. Você veria que hoje, o orgulho está voltando a brilhar nos olhos deles. Eu poderia aqui lhe falar da rebelião zapatista de Chiapas ou de lutas como a da Raposa Serra do Sol. Mas quero lhe falar sobre a Bolívia. A mesma Bolívia indígena e miserável que você quis transformar há 40 anos. A Bolívia para a qual você, literalmente, entregou a sua vida. Pois saiba, Companheiro Ernesto Che Guevara, que seu sacrifício não foi em vão: hoje o presidente da Bolívia é um indígena! Não é – e nem poderia ser – nenhum tipo de messias. Não se transforma um país explorado há tantos séculos da noite para o dia. Mas você, que conheceu de perto os indígenas e camponeses bolivianos quando atuou com eles na guerrilha, teria orgulho deles hoje. Eles têm resistido bravamente às tentativas de desestabilização arquitetadas pelas oligarquias e pelos EUA. Eles têm protegido o governo de Evo Moralez. E eles se sentem fortes para fazê-lo, sabe por que, companheiro? Porque sabem que hoje não estão mais sozinhos. Eles têm o apoio da maioria dos países vizinhos. Eles já viram uma tentativa semelhante de golpe ser derrotada na Venezuela alguns anos atrás. Eles mesmos já deram uma demonstração de força vencendo a “Guerra da Água” em Cochabamba. E agora estão, de novo, nos enchendo de orgulho.
É, Comandante Ernesto Che Guevara: vivemos numa nova América Latina. Muito a fazer, pouco a comemorar ainda, mas com certeza uma nova América Latina. E você tem tudo a ver com isso. Por isso lhe somos gratos. Que seu espírito de dedicação e volutariedade ao trabalho que deve ser feito, somado à energia poderosa da indignação, continuem a nos inspirar nessa longa caminhada. Pátria ou Morte! América Latina Livre! Hasta La Vitória! Sempre!


"Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros." Ernesto Che Guvara

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